“Retomada do desenvolvimento é o ajuste que o Brasil precisa”, diz presidente da CTB
A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) protagonizou a luta da classe trabalhadora em 2015. Na atual conjuntura de crise política e econômica, a central teve papel fundamental e vitorioso em diversas batalhas contra o retrocesso. Pela democracia e retomada do crescimento, a CTB atuou incansavelmente para barrar a tentativa da direita – inconformada com o resultado das eleições – para interromper o mandato da presidenta Dilma e desestabilizar o Brasil.
Em apenas 8 anos de existência, a CTB se destacou no meio sindical, político e social, pelo comprometimento demonstrado com a classe trabalhadora e a Nação. Hoje a central representa mais de 1,1 mil sindicatos e 8 milhões de trabalhadores, em diversas categorias e setores econômicos. Em julho de 2015 a entidade recebeu a filiação do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro, um dos maiores do País.
O protagonismo da CTB no sindicalismo internacional foi um dos êxitos obtidos este ano. Em outubro, a central sediou o Simpósio que comemorou aniversário de 70 anos da Federação Sindical Mundial (FSM) e realizou o Ato Mundial Anti-Imperialista, reunindo representantes de mais de 50 países em São Paulo.
A CTB também marcou presença na luta dos movimentos sociais e estudantis, participando ativamente de grandes eventos e manifestações, entre eles, a Marcha das Margaridas, a Marcha das Mulheres Negras e a Conferência Nacional da Juventude. A entidade ainda compõe as Frentes, Brasil Popular e Povo Sem Medo, formadas este ano por setores de esquerda e do campo progressista e popular, na luta por direitos sociais e contra a onda conservadora em curso.
Foi um ano difícil, mas a mobilização da CTB em prol da classe trabalhadora conseguiu impedir o avanço de Projetos de Lei (como o da terceirização) que trariam perdas consideráveis de direitos aos trabalhadores. A articulação da CTB com parlamentares e a presença constante da entidade no Congresso conseguiram impedir a instituição do chamado “negociado sobre o legislado” no Programa de Proteção ao Emprego (PPE). A medida representava séria ameaça aos direitos trabalhalistas, pois priorizava negociações à revelia da lei em acordos coletivos de trabalho.
Em entrevista ao Portal CTB, o presidente da entidade, Adilson Araújo, falou sobre a atuação da central em 2015, desafios e perspectivas para 2016. Adilson deixou claro que a CTB é contra o impeachment de Dilma, porém é crítica à política de ajuste fiscal promovida pelo governo para sair da crise. Para o dirigente, “não é hora de fazer reformas nem reduzir direitos”. Ele afirma que o momento exige um plano de ação emergencial para destravar a economia. “A retomada do desenvolvimento é o ajuste que o Brasil precisa”, destaca.
Portal CTB – Como foi 2015 para a CTB que, entre outras conquistas, recebeu filiações importantes como a do Sindicato dos Comerciários do Rio?
Adilson Araújo – A cada aferição do Ministério do Trabalho que define o nível de representatividade verificamos o real crescimento da CTB. Ao que tudo indica, devemos chegar à casa dos 11% em 2016. Isso é resultado de um trabalho coletivo, do esforço da Direção Nacional e das seções Estaduais. O Projeto CORAL (Centro de Organização, Apoio e Logística às entidades sindicais), inaugurado nesta gestão, vem alimentando os processos de regularização e constituição de novas entidades sindicais e fortalecendo as CTB’s nos Estados. A conquista do Sindicato dos Comerciários foi histórica para o sindicalismo no Brasil. Uma turma jovem e comprometida com a luta classista assumiu, democraticamente, como o nosso apoio, a entidade, uma das mais importantes estruturas do sindicalismo brasileiro, que vinha sendo dominada há mais de cinco décadas por uma família.
Portal CTB – A realização do Simpósio da FSM e o Ato Mundial Anti-Imperialista confirmam o protagonismo internacional da CTB?
AA – A CTB organizou e recebeu a principal atividade da Federação Sindical Mundial (FSM) e o aniversário de 70 anos da instituição. O evento, que reuniu representantes de mais de 50 países, consagrou a atuação da CTB e demarcou o seu espaço no sindicalismo internacional. O encontro no Brasil, ocorrido em outubro, foi marcado também pela realização do Ato Mundial Anti-imperialista. Aconteceu num momento histórico e desafiador, num cenário de radicalização da luta de classes no Brasil, na América Latina, no mundo, com conflitos internacionais instigados pelo imperialismo. Ao aprovarmos a Carta de São Paulo, denunciamos o efeito devastador desta, que é uma das mais longas crises do capitalismo, que se alonga e ainda não encontrou seu desfecho. Estes eventos nos incluiu na luta internacional e deixou claro que a chama da luta pelo Socialismo continua acesa, por um mundo livre das guerras de opressão, dos ataques à autodeterminação dos povos, das desigualdades, do ódio e do preconceito.
Portal CTB – Muitas perdas de direitos trabalhistas estiveram em pauta ao longo de 2015. No saldo final do ano, a CTB, o movimento sindical pode comemorar?
AA – O Congresso eleito, ainda mais conservador, trouxe para o centro da disputa política uma agenda regressiva, com vistas à flexibilização dos direitos e a precarização do trabalho. Resistimos à onda que queria sacramentar o PL da terceirização, de forma irrefreável e generalizada. No debate do PPE fomos pegos de surpresa com a reedição do “negociado sobre o legislado”, que somente saiu do relatório devido à pressão e importante articulação da nossa central com parlamentares na Câmara dos Deputados. Nem tudo está perdido. 2015 termina com a garantia de que a Política de Valorização do Salário Mínimo, sempre defendida por nós, será mantida no próximo ano. O salário mais uma vez foi reajustado acima da inflação – de R$ 788 para R$ 880 – a partir de 1º de janeiro. É bom lembrar que essa conquista é fruto da luta unitária das centrais sindicais.
Portal CTB – É notória a abertura do governo ao diálogo com as centrais sindicais. Sempre foi assim?
AA – Houve um tempo em que os trabalhadores eram tratados à base da mordaça e do chicote. Tinham aqueles que defendiam intervenção nos sindicatos e o fim das centrais sindicais. Vencemos etapas importantes com a vida democrática e conquistamos a legalização das centrais. Essa conquista permitiu maior abertura e diálogo com o governo, porque ele sabe que sua voz nas ruas é a classe trabalhadora. Seria um profundo equívoco romper com essa base social.
Portal CTB – Como a CTB e demais centrais reagiram ao anuncio de medidas que atingem os trabalhadores, a exemplo das reformas da Previdência e Trabalhista?
AA – Nos diversos encontros que tivemos com a presidenta Dilma em 2015 ela foi alertada de que não há acordo nessa história de alterar as regras da Previdência. As MPS 664 e 665 (que alteram as regras de seguro-desemprego, abono salarial e mudanças na concessão de pensão por morte e auxílio-doença) não agradaram. Outra mudança previdenciária pode frustrar ainda mais a sua base social. A palavra de ordem é resistir a qualquer medida que venha acarretar prejuízos. Sabemos ainda que as relações de trabalho precisam avançar muito para corrigir distorções e aperfeiçoar a tão atacada Legislação Trabalhista. No entanto, estamos diante de uma grave crise econômica e política – não é hora de fazer reformas nem reduzir direitos na busca pelo ajuste fiscal. O momento agora exige uma ampla unidade de forças para promover ações emergenciais de combate aos graves problemas que afligem o nosso povo e ameaçam o País. A classe trabalhadora vai resistir a toda e qualquer ameaça de retrocesso e perda de direitos.
Portal CTB – E qual seria a saída para esta crise?
AA – A retomada do desenvolvimento é o ajuste que o Brasil precisa. Como sugere o documento “Compromisso pelo Desenvolvimento”, apresentado ao governo pelas centrais sindicais e organizações empresariais, o plano emergencial para o Brasil voltar a crescer contempla a continuidade de investimentos em infraestrutura, a recuperação da nossa capacidade produtiva, geração emprego e renda, o redirecionamento da política econômica e o regime fiscal, entre outros. No texto, entregue este mês à presidenta, apontamos 7 diretrizes para se chegar a isso, entre eles uma mudança na política econômica conservadora, redução dos juros, retomada dos investimentos públicos e privados, potencializar a produção industrial que vem pagando caro pelo processo de desindustrilização do país.
Portal CTB – A mobilização da classe trabalhadora foi massiva em defesa da democracia, como se viu no ato do último dia 16. Houve certo amadurecimento e conscientização da militância?
AA – Vivenciamos no Brasil um período em que prevalecia a política do arrocho salarial, do desemprego em alta escala, de privatizações e subserviência ao imperialismo norte-americano – era assim que o tucano FHC governava o país. Esse retrato merece ser comparado ao legado de conquistas alcançadas a partir dos governos Lula e Dilma. Ninguém, em sã consciência, vai querer voltar a um tempo obscuro, onde na cartilha neoliberal somente os ricos podiam tudo e a maioria da população, excluída e marginalizada, quase nada. O Ato do dia 16 foi uma resposta necessária àqueles que advogam a tese do impedimento do mandato constitucional da presidenta, eleita democraticamente pelo voto popular. A classe trabalhadora é consciente do seu papel e não quer voltar ao passado.
Portal CTB – 2016 está aí. Quais os desafios da CTB para o próximo ano?
AA – O compromisso da CTB é promover a consciência de classe em suas bases e, mais do que nunca, a luta agora passa pela defesa da democracia, contra o golpe. Para a CTB fica evidente que esta tarefa vai exigir ampla unidade com os setores democráticos e progressistas da sociedade brasileira. Construir uma grande mobilização nacional nesta direção, pautando de forma acelerada a retomada do crescimento econômico será o caminho. Em 2016 a CTB continuará presente em todas as campanhas que atendam os interesses da classe trabalhadora e do País. Os êxitos alcançados nestes 8 anos de existência da central sindical que mais cresce no País sinalizam que estamos no caminho certo.
Fonte: Portal CTB (com Ruth de Souza e Natália Rangel)